domingo, 27 de dezembro de 2015

PROJETO LITERATURA DE CORDEL (continuação)



FIM DA AMBIÇÃO

Nós podemos evitar
A extinção da Mãe Terra,
Parando a poluição
Ensinando ao que erra
Que a paz é mais importante
Do que o aterrorizante
Mercado de fazer guerra.

Tudo o que você possui
Só a terra pode dar
A água, o pão e o vinho
O que vestir e caçar
Luxo ou simplicidade
Então cuide com bondade
De quem vive a lhe ajudar.

Que nesse novo milênio
A data tão esperada
O menos favorecido
Já tenha sua morada
E que Força Celeste
Abençoe nosso Nordeste
Deixando a terra molhada.

Que venha cheio de amor
E de paz pra nossa terra
Que os verdes olhos da mata
Enfeitem o cume da serra
Que os males que nos consomem
Já não estejam no homem
Assim não terá mais guerra.

Nos corações das pessoas
A fé esteja presente
Dando força a nossa alma
Pondo luz em nossa mente
É isso que o bem nos traz
Com carinho, amor e paz
A gente será mais gente.

Homens, animais e árvores
Não marchem para extinção
A importância do amor
Cresça em cada coração
É isso que eu espero
É tudo isso que eu quero
Pra o mundo e nossa nação.




COMO NASCEM OS PROVÉRBIOS

Esses provérbios nasceram
De frase bem resumida
Compreendida por todos
 Respeitada, conhecida
Passada de pai pra filho
Geralmente dando brilho
Aos exemplos desta vida.

Existem há vários séculos
Por esse mundo inteiro
São alguns bem-humorados
Ou de sentido ordeiro
Tornaram-se consagrados
Por isso são estudados
Aqui e no estrangeiro.

Eis aqui alguns exemplos
Só pra poder despertar
Tua curiosidade
Ela precisa acordar
Estou te dando o anzol
Seja na chuva, no sol
Vá aprender a pescar.

Peço licença a vocês:
Vou começar viajar
Nessa riquíssima estrada
Da cultura popular
Vou contar de um a três
Não conto mais outra vez
Pois já vou proverbiar.

Eu sei que uma andorinha
Sozinha não faz verão
É dando que se recebe
Dê a quem tem precisão
Pratique sempre um bom ato
Nunca dê carne a gato
Pois ele fica ladrão.

Sei que em boca fechada
Não entra nenhum mosquito
Amor com amor se paga
Amor é sempre bendito
Quem não ama é desalmado
E vive sempre enroscado
Eu assino e tenho dito.

Se conselho fosse bom
Ninguém dava não sinhô
Mas depende de quem dá
Humilde é quem aceitou
Às vezes um bom conselho
Pode servir de espelho
Pra quem nunca se olhou.

Se a vaca vai pro brejo
Eu mando desatolar
Se a porca torce o rabo
Eu puxo até esticar
Uma besta não me complica
O que Freud não explica
Pode vir me perguntar.

Pois se Deus está comigo
Ninguém será contra mim
Ele é a existência
Começo, meio e fim
É a força da natureza
É lucidez e beleza
Razão que me fez assim.



SAUDAÇÃO A JUAZEIRO DO NORTE
Patativa do Assaré

Mesmo sem eu ter estudo

sem ter do colégio o bafejo,
Juazeiro, eu te saúdo
com o meu verso sertanejo
Cidade de grande sorte,
de Juazeiro do Norte
tens a denominação,
mas teu nome verdadeiro
será sempre Juazeiro
do Padre Cícero Romão.

O Padre Cícero Romão

que, vocação celeste
foi, com direito e razão
o Apóstolo do Nordeste.
Foi ele o teu protetor
trabalhou com grande amor,
lutando sempre de pé
quando vigário daqui,
ele semeou em ti
a sementeira da fé.

E com milagre estupendo

a sementeira nasceu,
foi crescendo, foi crescendo
Muito ao longe se estendeu
com a virtude regada
foi mais tarde transformada
em árvore frondosa e rica.
E com luz medianeira
inda hoje a sementeira
cresce, flora e frutifica.

Juazeiro, Juazeiro

jamais a adversidade
extinguirá o luzeiro
da tua comunidade.
morreu o teu protetor, 
porém a crença e o amor
vive em cada coração
e é com razão que me expresso
tu deves o teu progresso
ao Padre Cícero Romão

Aquele ministro amado

que tanto favor nos fez,
conselheiro consagrado
e o doutor do camponês.
contradizer não podemos
E jamais descobriremos
O prodígio que ele tinha:
Segundo a popular crença,
curava qualquer doença,
com malva branca e jarrinha.

Juazeiro, Juazeiro

tua vida e tua história
para o teu povo romeiro
merece um padrão de glória.
De alegria tu palpitas,
ao receber as visitas
de longe, de muito além,
Grande glória tu viveste!
Do nosso caro Nordeste
tu és a Jerusalém.

Sempre me lembro e relembro,

não hei de me deslembrar:
O dia 2 de Novembro,
tua festa espetacular
pois vem de muitos Estados
os carros superlotados
conduzindo os passageiros
e jamais será feliz
aquele que contradiz
a devoção dos romeiros.

No lugar onde se achar

um fervoroso romeiro,
ai daquele que falar,
contra ou mal, do Juazeiro.
Pois entre os devotos crentes,
velhos, moços e inocentes,
a piedade é comum,
porque o santo reverendo
se encontra ainda vivendo
no peito de cada um.

Tu, Juazeiro, és o abrigo

da devoção e da piedade.
Eu te louvo e te bendigo
por tua felicidade,
me sinto bem, quando vejo
que tu és do sertanejo
a cidade predileta.
Por tudo quanto tu tens
recebe estes parabéns
do coração de um poeta.





DONA CHICA

Esse fato se passou
Com dona Chica Ferreira
Que mora no Pé da serra
No sítio Tamarineira.
E nunca vem na cidade
Pois sua vaidade
É gostar de ser roceira.

Mas ficando adoentada
Resolveu se receitar
Estava mesmo enfadada
Já gemia sem parar.
Pegou o misto na feira
Nele seguiu bem ligeira
A fim de se consultar.

 - Me conte, disse o doutor:
 - Qual é a sua mazela?
Dona Chica assim falô:
 - É um ardo na guela
Uma imbruição no bucho
O istambo dando repuxo
E um bolo nas custela.

Ainda onteonte
Eu comi um pirãozinho de costela
Baião de dois com piqui
E uma farofa amarela.
Um tequim de rapadura
Só se foi essa mistura
Que causou a mazela.

- Descobri o seu problema
Não precisa de assombração
Tá resolvido o dilema
É uma forte indigestão.
Entenda por caridade
Você não tem mais idade
Pra comer osso e pirão.

Os remédios escolhidos,
Receitou com precisão:
- Tome esses comprimidos
Logo após a refeição.
Você vai ficar curada
Se não fizer presepada
E seguir com atenção.

Enfadada mais sem tédio
Chegou em casa, almoçou
E pegando o tal remédio
Dois comprimidos tomou.
Mas o bicho sendo enorme
Do tamanho desconforme
Na goela não passou.

Danou-se a ferver na boca
Dona Chica a sufocar
Esperneava feito louca
Não podia nem falar.
Pelo nariz espumava
A garganta se fechava
Só faltava desmaiar.

Tão logo recuperou-se
Do triste acontecimento
Dona Chica levantou-se
E ali naquele momento.
Sua raiva demonstrou
Gritou alto, esbravejou
Fez até um juramento.

E jurou bem na verdade
Depois que passou mal
Nunca mais vou à cidade
Te desconjuro animal!
O seu remédio moderno
Vá seu doutor pro inferno
Com esse tal de Sonrisal!




UM CORDEL SOBRE LEITURA

Vou armar esse cordel
De um jeito diferente
Pois eu já falei de fábulas
Ou então do serão quente
Mas de livros, digo agora
Monto rimas sem demora
Ofereço esse presente.

Livros em bibliotecas
Lá dos bairros ou escolares
Livros em casa de pobre
Ou de quem come manjares
O dinheiro não importa
Que agora eu abro a porta
Livro em todos os lugares.

Quero livros na estante
Ou então na cabeceira
Quero livros na cozinha
Livro sério ou brincadeira
Livro caro ou barato
Na cidade ou no mato
Menos livro na fogueira.

Livro existe com leitura
Cada página uma história
Livro existe se contado
Com ou sem dedicatória
Fino, grosso, grosso ou fino
Para adulto ou menino
Ler um livro é uma vitória.

Livros são meus companheiros
São como flores do jardim
São suspenses, dores, vidas
Calmas, risos, estopim
O poeta então revela
Nunca eu vivo sem ela
Ela não vive sem mim.

A leitura inicia
Pelos olhos da razão
E trespassa calmamente
Para nossa intuição
Pelos olhos bem começa
O ouvido então processa
Chega ao nosso coração.

Meus amigos parto já
Findo essa poesia
Eu termino meu cordel
Com amor e alegria
O poeta vai embora
Mas, retorna noutra hora
Adeus, até outro dia.




NAS ASAS DA LEITURA

Neste cordel falarei
Sobre o meu melhor amigo
Que me ajuda a encontrar
Lazer, trabalho e abrigo.
Desde meus primeiros anos,
Ele é parte dos meus planos
E segue sempre comigo.

Eu sou amigo do livro
Desde quando menininho.
Ele me dá autoestima
Na leitura me alinho.
Acho razões pra lutar,
 Com virtude, retirar
As pedras do meu caminho.

Do famoso Guinness Book
À velha Bíblia Sagrada,
Os livros falam de tudo,
Eles não esquecem nada!
Leia é isso que peço
Cada livro, um universo,
Montanha nunca escalada.

Livros de conto de fada,
Espionagem, terror,
Infantil ou juvenil,
Pra formação do ator.
Direito, pedagogia,
De moda, filosofia,
Biologia e humor.

Crianças, jovens e adultos,
O livro é uma luz.
Se engrandeçam na riqueza
Que a leitura produz.
Livro é ressurreição
Livro é evolução,
Do legado de Jesus.

Na leitura encontro asas,
Prazer, força pra voar,
Em qualquer cosmicidade
Eu vejo o meu ser pousar.
O livro é meu transporte,
A leitura o passaporte,
Direito de conquistar!



CANTE LÁ E CANTE CÁ

Oh! Força inspiradora,
Ilumine o meu pensar
Quero um mar de poesias
Pra que eu possa navegar.
Me acenda luz criativa
Pois quero honrar Patativa
O cordel que vou narrar.

Veio para ser sinônimo
De verso, improvisação.
Pensar, criar e cantar,
Sua obra é pulsação.
Das veias da mão divina,
Patativa é uma mina
Jorrando inspiração.

Ele foi enviado,
Pra viver o seu sertão
Amá-lo intensamente,
Transformá-lo em canção.
Foi de sua natureza
Distribuir a riqueza
Do bondoso coração.
  
Esse vaqueiro de versos
Ouviu engenho de pau,
A passarada na mata
E o galo no quintal.
Tudo quanto via, ouvia,
Transformava em poesia,
Tecia seu ideal.

Entre rimas e métricas,
Tudo soube relatar:
O som do carro de boi
E a cigarra a cantar.
A caça, o caçador,
O amor, o desamor,
Terra, fogo, água e ar.

Fogueira de São João,
Novenas de São José,
O folclore do seu povo
Ele preservou com fé.
Para sempre ser lembrado
Esse mestre tão louvado
Patativa do Assaré.



CORDEL EM VERSOS

Eu resolvi escrever
Um cordel sobre cordel
Porque o cordel tem sido
Meu companheiro fiel
E pra tirar do leitor
Alguma dúvida cruel.

O cordel em minha vida
Esteve sempre presente
Esteve, está e estará
Na vida de muita gente
Comigo ele sempre foi
Um professor excelente!

É que nasci no sertão
Onde havia pouca escola
Pois lá os divertimentos
Eram um joguinho de bola
Forrós, vaquejadas
E versos ao som de viola.

E as leituras de folhetos
Dos poetas do sertão
Quando aparecia um
Os jovens da região
Se reuniam e, atentos
Ouviam a narração.

Pois o povo era sensível
E apesar de ser pacato
De ter pouca informação
E de residir no mato
A leitura de folhetos
Foi sempre o grande barato.

Era comum na fazenda
A gente se reunir
Ao redor de uma fogueira
Pouco antes de dormir
Para ler versos rimados
Cantar e se divertir.




A DIDÁTICA DO CORDEL

Nessas sextilhas que tem
Métrica, rima e oração
Vamos falar do cordel
Com a sua tradição
Que já virou ferramenta
Usada na educação.

O folheto popular
Denominado cordel
A sua definição
Segundo Raymond Cantel
É poesia popular
Impressa sobre papel.

Dos folhetinhos baratos
E dos simplórios barbantes
O cordel evoluiu
Seguiu rota triunfante
Estudar este fenômeno
É um caso interessante.

E o cordel desde o tempo
Do folheto manuscrito
Vem conseguido juntar
Popular e erudito
Mostrando que a sua força
Tem um poder infinito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou? Curte minha página!
Beijinhos.